Transporte feito para servir ao usuário

O transporte em sua cidade

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Um tema que incomoda, assusta e entristece muita gente é a qualidade do sistema de transportes, especialmente em países que não têm boa gestão dos serviços públicos.

Por um lado vemos excesso de pessoas necessitando movimentação, quantidades crescentes de veículos transitando nas zonas urbanas com poucos ocupantes, e como consequência disso, filas e congestionamentos.

Por outro lado, vemos os conflitos entre gestores públicos e gestores de empresas concessionárias de transporte, principalmente ônibus urbanos, sobre a disputa por preço da tarifa e liberação de acesso a usuários dispensados de pagar pelo transporte.

Há um terceiro lado da questão, que trago neste artigo. Até que ponto gestores públicos, empresas concessionárias, assim como fabricantes de veículos e outros equipamentos e sistemas de apoio ao transporte estão verdadeiramente, preocupados em servir ao cidadão, aos usuários do transporte?

Convido você, leitor, à reflexão sobre o tema, na realidade de sua cidade ou região:

  • Como são os ônibus em sua cidade?
  • Você sente que os veículos são projetados e operados de forma a servir ao usuário dos transportes públicos?
  • Ou você se sente, às vezes, como um objeto sendo transportado?
  • Equipamentos de apoio são projetados e instalados para servir ao usuário?

Por mais que eu já tenha falado, não canso de me surpreender com o uso inteligente, respeitoso e atencioso dos sistemas de transporte de algumas cidades, infelizmente fora do Brasil. Existem alguns exemplos de sistemas de transporte verdadeiramente servidores, que não custa muito para serem implantados. Desta vez vou relatar o caso dos ônibus de Portland e San Francisco, duas cidades da costa leste dos Estados Unidos.

Parte do que foi relatar neste artigo não constitui novidade, como tratei no artigo O transporte público servidor do Canadá, mas me animo a reproduzir algo despedimento em cidades organizadas, e, neste artigo, aproveito para materializar em imagem alguns exemplos.

Veículos e equipamentos

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Painéis luminosos indicando quando algum usuário faz solicitação de parada. O sistema de som também indica a solicitação de parada, e orienta o usuário a se aproximar da porta de saída, dando, quando necessário, alguma orientação sobre procedimento para abrir a porta.

Painel luminoso, com letras grandes e claras, do nome e número da linha, indicando sentido do ônibus.

Dispositivo para transporte de bicicletas

New High Capacity Bike Racks on Hybrid Coach 8748 | February 20, 2015
New High Capacity Bike Racks on Hybrid Coach 8748 | February 20, 2015

Equipamento para recebimento do pagamento da passagem, com impressão do Tickets após conferência automática do valor total pago (veja imagem da parada, adiante).

O acesso

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Na porta dianteira, existe um sistema hidráulico que permite ao ônibus abaixar sua altura, facilitando o acesso de pessoas com dificuldade de locomoção ou usuários de cadeira rolante.

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Em cada veículo existe, além da porta dianteira, pelo menos uma porta lateral que permite a entrada de usuários com cartão mensal. Logo na entrada existem sensores, onde o usuário passa seu cartão, fazendo um sonoro e alto BIP e, naturalmente, registrando a entrada comportados do cartão. Logicamente um sistema desse conta com usuário honesto e consciente.

Prestei atenção, por diversas vezes, e, à exceção de alguns pedintes em San Francisco, não “flagrei” um único usuário que, acessando o veículo pela porta intermediária, não tivesse apresentado seu cartão no sensor. Belo exemplo de cidadania!

As paradas

Pontos de parada de ônibus, todos com algum tipo de proteção, assento, totem para venda de bilhetes, além de mapas com trajetos, indicações de linhas e horários.

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Em cada parada, a indicação, clara e objetiva, das linhas que por ali transitam, com a indicação, atualizada do horário de chegada dos próximos dois ônibus. Aparentemente cada veículo é equipado com GPS, permitindo a informação atualizada de cada veículo.

Quando a parada não dispõe de painéis indicadores, contém mapa do trajeto da linha, com os horários, e telefone, que pode ser acionado pelo usuário para consultas.

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Em alguns pontos específicos existem quiosques que podem ser utilizados para a compra de passes de transporte que permitem o uso integrado de diferentes tipos de veículo, o que, dependendo do uso que se vai fazer, sai mais barato (veja imagem da parada).

Aliás, eis aqui uma dica sempre útil para que está viajando por países mais organizados: sempre existem passes de transporte que permitem o uso continuado, por dias, de diferentes equipamentos, ficando mais barato do que pagar por corridas individuais.

O interior dos veículos

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Poltronas (muitas) para pessoas com dificuldade de locomoção ou cadeirante, com indicação clara de preferência para estes usuários. Com alguma frequência o sistema sonoro do ônibus lembra aos usuários a recomendação de preferência desses assentos para seus usuários de destino.

Painéis luminosos informando a próxima parada, acompanhado de sinal sonoro, informando cada parada. Duvido que alguém, mesmo com um leve cochilo, de olhos fechados, minimamente atento, perca sua parada.

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Aliás, além dos costumeiros cordões na lateral, costuma haver botões nas colunas de apoio, de onde se pode solicitar parada do ônibus.

Sinalização das portas, orientando sobre procedimento para saída.

Os assentos não são de plástico duro e desconfortável. Pelo contrário, são de algum material levemente acolchoado, proporcionando um mínimo de conforto.

Os condutores

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Bom, não se pode (ou pode?) exigir elevadas atenção, respeito e presteza por parte do condutor, afinal, sua atenção maior parece estar em conduzir o veículo – será? O questionamento se justifica por ser a função maior do condutor a de conduzir pessoas, e não o veículo, não é mesmo? Por vezes vemos motoristas que estão muito mais preocupados em conduzir o veículo, não dando a menor atenção e tempo para que os usuários, sobretudo com dificuldade, se acomodem antes da partida.

Pois bem, fiz alguns testes, e, em sua grande maioria, pude contatar condutores atenciosos, respeitosos, atentos, disponíveis para orientar e informar usuários necessitados (sobretudo não residentes) sobre trajeto, linhas e pontos de parada.

Chamou especial atenção um episódio em que a condutora, mulher (existem muitas), após o desembarque dos passageiros em determinado ponto, após ter fechado a porta, e, após ter recolocado o veículo e, movimento, ainda que inicial, ter sido solicitado por um passageiro displicente, que lhe solicitou parar alguns metros adiante.

Ela não atendeu o pedido, pois teria que parar fora do ponto estabelecido. A condutora, porém, não se limitou a dar um “não”.

Ela justificou que não poderia parar fora do local estabelecido, e informou que precisava seguir o procedimento de segurança, e que lamentava não pode atendê-lo. Gentilmente, mas em voz clara e firme, desculpou-se e solicitou sua compreensão. Aproveitou ainda para informar p nome da próxima parada, e a quantos metros aproximadamente, o veiculo se encontrava dele. Sem se contentar, acrescentou que o passageiro poderia atravessar a rua e pegar o ônibus da linha X no sentido Y.

Quase não creditei no que vi e ouvi!

Os usuários

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Com exceção de alguns passageiros mendigos de San Francisco (não são poucos, nem cheirosos), pode-se registrar que, da mesma agência que o sistema de transporte é servidor, projetado é operado em função dos usuários, estes também são:

  • conscientes de seu papel e espaço;
  • respeitosos com o sistema e com os outros usuários;
  • honestos para com o sistema;
  • disciplinados consigo mesmo e com os outros;
  • educados e solícitos para com todos, em especial os mais necessitados;
  • responsáveis para com o uso e benefício coletivo do sistema.

Depois de ver e viver experiências como essas, só me resta dizer que creio fortemente, que:

Um dia vou ver os ônibus do Brasil assim!

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