Profissionais de serviços, seja trabalhando em atendimento, seja fazendo a gestão de um serviço, passam por dificuldades relacionadas à comunicação.
A comunicação tanto pode ser algo positivo, inerente ao serviço, ou que facilita o serviço, mas também pode ser algo que compromete o serviço.
Profissionais, gestores de serviços, empresas e organizações, frequentemente, causam constrangimento, desconforto e perda a clientes, muitas vezes involuntariamente, às vezes inconscientemente, e quase sempre displicentemente.
Alguns não sabem como lidar com isso. Outros não se preocupam com isso. Mas certamente, quem preza por prestar serviços de qualidade, com atenção e respeito a clientes e usuários, se incomoda quando causa transtorno a alguém.
Independente de você prestar serviço, peço que faça uma reflexão, como cliente de serviços:
- Você já teve a sensação de ter perdido um bom tempo por causa de uma simples resposta dada por alguém que lhe servia?
- Alguma vez você foi prejudicado por que deixou de receber uma informação?
- Alguma vez você foi prejudicado por que recebeu uma informação com atraso?
Fatos como esses acontecem porque profissionais, empresas e organizações não se preocupam com os efeitos da comunicação. Consequentemente, não dão a devida atenção aos processos de comunicação com o cliente.
A comunicação é um dos aspectos de maior importância na prestação de um serviço. Mas têm a ver com conhecimento, vontade e disposição.
Acompanhe esse episódio, que aconteceu com uma paciente num hospital.
Os efeitos de uma má comunicação
Aconteceu esses dias, numa instituição hospitalar, de alta tecnologia, considerada referência, e tida por muitos, como um exemplo de qualidade em serviços.
A médica precisou mudar de posição, pois agora ocupava o papel de paciente. Ela havia agendado um exame de cintilografia. Passada a fase de marcação, autorização, e orientações iniciais sobre que cuidados preliminares deveriam ser seguidos, ela dirigiu-se ao local.
Reservou a manhã inteira do sábado para realizar a série de exames, contente por não ter que desmarcar compromissos profissionais durante a semana. Ela, agora paciente, não teria que remarcar compromissos agendados com os seus pacientes da semana.
Tendo recebido as orientações gerais sobre alimentos e bebidas a evitar, seguiu o script rigorosamente, sabedora da possíveis interferências de algumas substâncias na condução dos exames a serem realizados.
Atendida na recepção, aguardou, pacientemente, sua vez.
Iniciou a primeira etapa, ansiosa para que tudo transcorresse em clima de normalidade, e, sobretudo, que os resultados afastassem as suspeitas que ela e o colega, cardiologista, aventavam.
Passada a primeira etapa, sentiu um leve desconforto no olho direito. Percebeu tratar-se de um leve inchaço, e, prontamente, auto prescreveu-se um antihistamínico. Sabedora dos possíveis efeitos de medicamentos nos resultados de um exame, indagou à atendente se poderia fazer uso do medicamento.
Você, leitor, poderia perguntar: uma médica não deveria saber se poderia, ou não, tomar o medicamento?
Eu respondo: não! Médico, quando vira paciente, esquece, com frequência, tudo o que estudou e acumulou de conhecimento na vida. Principalmente médico que não tem atitude arrogante. E, convenhamos, nunca é demais perguntar.
Médico, quando vira paciente, desaprende tudo o que sabe!
A reposta da atendente foi que “a senhora pode tomar este medicamento, que não afetará os exames“.
E ela fez uso do medicamento auto prescrito, reduzindo, gradativamente, o inchaço no olho.
Chamada para a segunda etapa de exames, seguiu a conduta, torcendo para que sua boa vontade em fazer os exames contribuísse para que nada desse errado.
Concluída a segunda etapa, aguardou mais um pouco pela chamada da etapa seguinte, relaxada por não estar trabalhando, apesar de gostar muito do exercício de sua profissão.
Algum tempo depois, é comunicada, pela atendente, que a terceira etapa não poderia ser realizada neste sábado.
O motivo alegado é que, o médico informou que, em virtude do medicamento que ela havia tomado para o inchaço no olho, poderia haver sonolência durante o exame, ou mesmo afetar o resultado.
Macacos me mordam! pensou ela. Eu me preparei tanto. Tomei tantos cuidados. Indaguei sobre o uso do medicamento. Consultei, fui autorizada. E agora?
Ficou com a sensação de ter perdido o sábado!
Porque essas coisas acontecem?
E eu pergunto a você, leitor: o erro foi de quem?
- Da atendente, que deu uma informação indevida, talvez por desconhecimento?
- Do médico, que, por excesso de zelo ou por outros motivos, preferiu descartar aquele atendimento, já num final de manhã de sábado, com um sol de rachar convidativo a outras atividades?
- Da atendente, que deu uma informação indevida, talvez por certo desleixo?
- Do médico, que, por não ter chegado cedo no serviço, permitiu que a atendente, sem ter a quem consultar, tivesse dado aquela “resposta indevida”?
- Da instituição, que não define claramente critérios sobre o que responder, e, sobretudo, em que circunstâncias responder, estabelecendo limites de atuação para seus profissionais, e em que condições deve ser feita uma consulta superior?
Enquanto fico aqui discorrendo sobre a causa da falta de qualidade – não há como negar que a qualidade do serviço ficou comprometida – a instituição, o médico e a atendente seguem seu curso de vida em plena normalidade.
A paciente, não!
Perdeu tempo. Perderá tempo!
Cancelará compromissos, reagendará consultas, afetará a vida de seus pacientes, faltará a algum evento, repetirá o processo de preparação pré exame, continuará ansiosa aguardando o resultado de um novo exame etc.
E a paciente, angustiada, ainda teve que aguentar fortes dores na mão onde tinha sido feita uma punção para injeção de contraste em sua veia. Aparentemente a colocação (ou retirada) da agulha de maneira indevida, deixou a paciente com fortes dores.
Avaliemos bem a importância do que falamos, para quem falamos, quando falamos. Vejam o risco de uma simples informação indevida, num momento indevido.
Como situações como essa podem ser evitadas, ou, pelo menos, minimizadas?
Os 10 passos para uma boa comunicação em serviços
Apresento, a seguir, os passos para você estabelecer uma boa comunicação nos serviços e evitar, ou pelo menos, minimizar o efeito negativo das frases mal ditas?
- Defina critérios para orientação prévia ao cliente, sobre os cuidados pré exame.
- Esteja atento para que os critérios sejam definidos com flexibilidade. Por que? Porque a padronização em serviços não deve ser tomada de modo radical. Poderão ocorrer situações inusitadas, em que nem tudo tenha sido estabelecido previamente. Nestes momentos, devem ser definidas consultas a superior hierárquico, ou técnico responsável
- Documente estes critérios em padrões de trabalho (procedimentos ou instruções), de modo a serem utilizados em treinamento de funcionários, bem como para esclarecimentos duvidas no trabalho
- TREINE, TREINE e TREINE as pessoas de acordo com estes padrões estabelecidos.
- Aqui vale uma ressalva. Treinar não é fazer uma leitura, perguntar se todos entenderam, e achar que tudo está resolvido. Treinar requer horas, dias e semanas de muita e repetida prática, a fim de que, na prestação do serviço, as pessoas tenham vivenciado bastante cada instrução, e não haja dúvida ou titubeio. Quantas horas de ensaio um músico, trapezista ou soldado exercitam, para estarem prontos na hora da verdade?
- Fale, enfatize, repirá, ressalte e revise, a importância que todo e qualquer prestador de serviço deve ter em “se colocar no lugar do cliente”, a fim de evitar situações em que, por simplesmente seguir o procedimento, o prestador de serviço cause transtornos, incômodos e mesmo prejuízos ao cliente por pequenos deslizes, como descrito neste artigo. Quem vai pagar a conta de mais uma manhã, ou um dia, de trabalho perdido?
- Acompanhe, monitore, avalie, simule, faça auditoria de processo, a fim de verificar se o que foi estabelecido está sendo cumprido, se está adequado, ou se precisa ser melhorado.
- Reconheça, comemore, divulgue e, se aplicável, recompense o bom desempenho!
- E depois de tudo, aperfeiçoe, com o tempo, os padrões e a prática, incorporando ideias e sugestões de clientes, da equipe, e de gestores.
- Certifique-se de repetir tudo novamente, continuadamente e acertadamente
Convite
Convido você a conhecer o curso “As dez dicas de ouro dos serviços” e potencializar a discussão deste tema com sua equipe. A dica número 8 guarda relação com o assunto tratado neste artigo.